Ela acorda às cinco da manhã. Abre os olhos lentamente, sem se mexer. Por alguns segundos, pensa ser um dia normal, tentando se lembrar dos traços de um sonho conturbado que teve durante a noite. Poderá dormir por mais cinco minutos? O que a luz da cozinha faz acesa aquela hora? O cheiro de café já está impregnado no seu quarto.
Quando se lembra que vai ser um dia diferente, um novo recomeço, uma nova fase, desperta como se estivesse atrasada, empurrando seu edredom velho que não consegue dormir sem. Veste as roupas que separou cautelosamente no dia anterior, tempo que seria poupado nos velhos tempos em que apenas precisava vestir o uniforme. Calça o seu bom e velho all star, mas então resolve ir com seus sapatos novos. Quer causar boa impressão. Solta os cabelos, que já não estão mais com o mesmo efeito da escova feita pela sua mãe, mas não há nenhum cacho que uma prancha não dê jeito. Passa a base, o lápis, sombra, rímel e corretivo, sem muita experiência com maquiagem. Come alguma coisa, só para não correr o risco de desmaiar, porque na realidade, não tem fome. Separa o material, coloca-o na bolsa e sempre acha estar esquecendo de algo. Escova os dentes, se olha no espelho pela última vez antes de sair. Sente vontade de vomitar, então coloca um pouco de enxaguante bucal e aquela sensação horrível vai embora. Dá um beijo em sua mãe. Vê seu pai se levantando... ele parece tão ansioso quanto ela. Olha no relógio, mas está atrasada, então corre, dá um beijo rápido nele e sai com passos rápidos. Gente desconhecida pelo caminho, mas que um dia irá conhecer. Anda sozinha na rua, seguindo sua direção, mas sabe que um dia não vai ser assim. Finalmente, chega ao seu destino, marcando bem os objetos, a entrada, os prédios vizinhos. Ela está com medo, mas ela está feliz. Ela sabe que vai ser assim pelos próximos cinco anos, então tenta se adptar aquilo desde já. Sabe que nos próximos dias, o que mais vai querer é voltar. Mas hoje, só hoje, tudo que ela quer é estar lá.
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